MICROSSISTEMA ANTICORRUPÇÃO E ACESSO À JUSTIÇA: INSPIRAÇÃO NAS QUI TAM ACTIONS

Tiago do Carmo Martins, Gilson Jacobsen

Resumo


O presente artigo parte do exame da feição transformadora da República Federativa do Brasil, tal como desenhada em 1988, que exige do Estado posturas ativas para superação de carências sociais. Tal objetivo, contudo, vem sendo embaraçado pelo fenômeno da corrupção, que desorienta decisões sobre políticas públicas e implica gastos ineficientes, com direto prejuízo para realização de direitos assegurados constitucionalmente. Na sequência, analisa de forma crítica o Microssistema Anticorrupção, centrado na Lei 8.429/92 (Improbidade Administrativa) e na Lei 12.846/2013 (Lei Anticorrupção), talhado para evitar e reprimir desvios na condução dos negócios públicos, mas que carece de efetividade. Propõe, então, a ampliação dos entes envolvidos no enfrentamento a atos desonestos, com envolvimento social e cidadão, a fim de facilitar os canais de acesso à informação sobre atos ilícitos praticados contra o Estado. Neste campo, se vale da experiência estadunidense com as qui tam actions, instrumento centenário que, ao franquear acesso à Justiça ao cidadão, tem propiciado a descoberta de muitos desvios, com bons resultados na recuperação de ativos. O artigo usou o método indutivo. A hipótese inicial foi a de considerar as qui tam actions como úteis ao aperfeiçoamento do Microssistema Anticorrupção. O resultado da pesquisa confirmou a hipótese.


Palavras-chave


Corrupção. Microssistema Anticorrupção. Participação. Recuperação de ativos. Qui tam actions.

Texto completo:

PDF

Referências


AYRES BRITO, Carlos. Distinção entre “controle social do poder” e “participação popular”. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 189, p. 114-122, jul-set /1992, p. 122.

BECK, Randy. Promoting Executive Accountability Through Qui Tam Legislation. Chapman Law Review. V. 21, Iss. 1. Art. 4, 2018, p. 44-45. Disponível em: https://digitalcommons.chapman.edu/chapman-law-review/vol21/iss1/4. Acesso em: 21/09/2022.

BERG & ANDROPHY. Qui Tam Statistics: False Claims Act Statistics Since 1988. Disponível em: https://www.bafirm.com/practice-areas/qui-tam-litigation/statistics/. Acesso em: 22/09/2020.

BRANDÃO, Nuno. O Whistleblowing no Ordenamento Jurídico Português. Revista do Ministério Público, Lisboa, Ano 41, n. 161, p. 99-113, jan./mar. 2020, p. 99.

COMISIÓN INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Corrupción y derechos humanos: Estándares interamericanos. Aprobado por la Comisión Interamericana de Derechos Humanos el 6 de diciembre de 2019.

COSTA, Suzana Henriques da; SILVA, Paulo Eduardo Alves da (Coordenadores). Improbidade Administrativa. Brasília, Ministério da Justiça, Universidade de São Paulo, Série Pensando o Direito, 2010, p. 30.

DINO, Nicolao. A Colaboração Premiada na Improbidade Administrativa: Possibilidade e Repercussão Probatória. In A Prova no enfrentamento à Macrocriminalidade, Org. Daniel de Resende Salgado e Ronaldo Pinheiro de Queiroz.Salvador: Editora JusPodvium, 2015, p. 457).

DOYLE, Charles. Qui Tam: The False Claims Act and Related Federal Statutes. Congressional Research Service. Edição do Kindle, 2009, p.67.

ENGSTROM, David Freeman. Private Enforcement’s Pathways: Lessons from Qui Tam litigation. Columbia Law Review, vol. 114, n. 8, Dez/2014, p. 1944.

False Claims Act/Qui Tam Actions. Business Torts Reporter, v. 32, n. 3, p. 66–67, 2020. Disponível em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=bth&AN=141087344〈=pt-br&site=eds-live&scope=site. Acesso em: 21/01/2021.

GABARDO, Emerson; CASTELLA, Gabriel Morettini de. O COMPLIANCE E A DOSIMETRIA DA PENA NAS AÇÕES DE IMPROBIDADE: PONDERAÇÕES A PARTIR DA NOVA LEI ANTICORRUPÇÃO. Caxias do Sul: Editora Plenum, v. 14, n. 80, p. 7–26, mar. 2018, p. 13.

GILLES, Myriam; FRIEDMANN, Gary. The New Qui Tam: A Model for the Enforcement of Group Rights in a Hostile Era. Texas Law Review, Vol. 98, 2020, p. 493.

GONÇALVES, Benedito. A Lei 12.846/2013 e a tutela do Direito material coletivo da probidade na Administração pública. In Estudos sobre Administração Pública e o combate à corrupção: desafios em torno da Lei 12.846/2013. Coordenação: Raúl Araújo, Edison Pereira Nobre Júnior, Bruno Leonardo Câmara Carrá. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2018, p. 33.

HARDIN, Garrett. The Tragedy of the Commons. Science, Vol. 162, Dez./1968, p. 1245-1246.

INTERNATIONAL TRANSPARENCY. Global Corruption Barometer: citizens’ voices from around the world. Disponível em https://www.transparency.org/en/news/global-corruption-barometer-citizens-voices-from-around-the-world. Acesso em: 16/07/2020.

JACOBSEN, Gilson; MARTINS, Tiago do Carmo. A Lei Anticorrupção e a promoção de compliance empresarial no Brasil. In Governança, Ética e Compliance. Org. Alex Sander Pires, Pedro Trovão do Rosário e Ruben Bahamonde. Lisboa: Almedina, 2022, p. 307-325.

JENNINGS, Colin; DARDEN, Marisa T.; HOBBS, Ayako. HEALTHCARE WHISTLEBLOWERS - HOW THE GOVERNMENT USES THE FCA’S QUI TAM PROVISIONS TO ROOT OUT CORRUPTION FROM WITHIN. CLEVELAND METROPOLITAN BAR JOURNAL, Jan. 2020, p. 36. Disponível em: https://www.squirepattonboggs.com/en/insights/publications/2020/01/healthcare-whistleblowers-how-the-government-uses-the-fcas-qui-tam-provisions-to-root-out-corruption-from-within. Acesso em: 14/12/2020.

KIM, Sang Beck. Dangling the Carrot, Sharpening the Stick: How an Amnesty Program and Qui Tam Actions Could Strengthen Korea’s Anti-Corruption Efforts. Northwestern Journal of International Law & Business, Vol. 36, No. 1, p. 235-265, 2016, p. 261.

KLITGAARD, Robert. Controlling Corruption. University of California Press, Berkeley, 1991. Kindle Version, p. 344-345.

LEVCOVITZ, Silvio. A corrupção e a atuação da Justiça Federal no Brasil 1991 – 2014. Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas: 2020, p. 110.

MARRARA, Thiago. Lei anticorrupção permite que inimigo vire colega. Conjur, 15.11.2013. Disponível em: www.conjur.com.br/2013-nov-15/thiago-marrara-lei-anticorrupcao-permite-inimigo-vire-colega. Acesso em: 02/05/2020.

MEHTA, Jason; SHORT, Jennifer A. Big Data Makes Big Cases: How Data Analytics Is Shaping False Claims Act Enforcement. Federal Lawyer, v. 67, n. 4, p. 42–48, 2020. Disponível em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=lgs&AN=145379313〈=pt-br&site=eds-live&scope=site. Acesso em: 21/01/2021.

MORGADO, Maria. Corrupção - estrutura e significado. Comunicação apresentada no Congresso da Justiça, Lisboa, Ago/2003. Disponível em: https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwiTmKG5nNXtAhUED7kGHdqyAvQQFjAAegQIAhAC&url=http%3A%2F%2Fasficpj.pt%2Fimages%2Farquivo%2F2003%2Fmorgado.pdf&usg=AOvVaw3Ih-MHytSMMSlgz3K3II0h. Acesso em: 17/12/2020.

NIMER, Beatriz Lameira Carrico. Ação Popular como instrumento de defesa da moralidade administrativa. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2016, dissertação de mestrado. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2134/tde-20062016-175724/pt-br.php. Acesso em: 21/08/2021.

O’DONNELL, Guillermo. Accountability Horizontal. La Institucionalización Legal de la Desconfianza Política. Revista ISONOMÍA, México, n. 14, Abril/2001, p. 26.

PALMA, Juliana Bonacorsi de. O autorrelato e o papel do particular na apuração de ilícitos. In: Justiça Consensual: Acordos penais, cíveis e administrativos. Coordenadores Daniel Resende Salgado, Luis Felipe Schneider Kirscher e Ronaldo Pinheiro Queiros. São Paulo: Editora JusPodivm, 2022, p. 937-938.

PERU. Decreto Supremo n° 044-2018-pcm. Disponível em: https://www.mef.gob.pe/es/normatividad-externa/17838-decreto-supremo-n-044-2018-pcm/file. Acesso em: 22/08/2022.

PERUZZOTTI, Enrique; SMULOVITZ, Catalina. Controlando la Política. Ciudadanos y Medios en las Nuevas Democracias Latinoamericanas. Buenos Aires: Editorial Temas, 2002, p. 32.

PETTY, Aaron R. How Qui Tam Actions Could Fight Public Corruption. University of Michigan Journal of Law Reform, vol. 39, Issue 4, 2006, p. 863.

PORTO, Thiago Heitor da Fontoura; WERLE, Caroline Cristiane. A efetivação do princípio constitucional da publicidade dos atos administrativos como forma de coibição da corrupção pública mediante o controle social. Barbarói, Santa Cruz do Sul, n. 4, p. 137-154. 2015/ 2, p. 152.

RABIAT, Ozigis. ADAPTING NIGERIA'S WHISTLEBLOWER POLICY TO PROCUREMENT FRAUDS: A CUE FROM THE FALSE CLAIMS ACT'S QUI TAM PROVISION. Public Contract Law Journal, Vol. 48, Issue 2, p. 337-353, Winter 2019, p. 340.

ROCHA, Márcio Antônio. A participação da sociedade civil na luta contra a corrupção e a fraude: uma visão do sistema jurídico americano focada nos instrumentos da ação judicial qui tam action e dos programas de whistleblower. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n.65, abr. 2015. Disponível em: https://revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao065/Marcio_Rocha.html. Acesso em: 15/12/2020.

ROSE-ACKERMAN, Susan. Corruption and Government: Causes, Consequences, and Reform. London: Cambridge University Press, 1999.

SADEK, Maria Tereza Aina. Combate à corrupção: novos tempos. Revista da CGU, Brasília, 20, ago-dez/2019, p. 1282.

SCHLOSS, Miguel J. Experiencias Internacionales para fortalecer la gobernabilidad. Georgetown University, Universia, Washington, 2010, vol. 4 num. 1, p. 18.

SOUZA, Teresa Cristina. Recuperação de Valores Devidos ao Erário no Direito Norte- Americano: qui tam action e false claims act. Escola da AGU, Brasília, 2º Curso de Introdução ao Direito Americano: Fundamentals of US Law Course, volume 1, 2012, p. 297.

SUNDFELD, Carlos Ari. Ação Civil Pública e Ação Popular. BDA - Boletim de Direito Administrativo, São Paulo, Jul./1996, p. 449.

SUNSTEIN, Cass R.; HOLMES, Stephen. O custo dos direitos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2019, Edição do Kindle, p. 562.

TOCQUEVILLE, Alexis. A democracia na América: Leis e Costumes de certas leis e certos costumes políticos que foram naturalmente sugeridos aos americanos por seu estado social democrático. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 90.

TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL. ÍNDICE DE PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO 2021. Disponível em: https://transparenciainternacional.org.br/ipc/. Acesso em: 06/09/2021.

TSCHEPIK, Nathan T. The Executive Judgment Rule: A New Standard of Dismissal for Qui Tam Suits Under the False Claims Act. The University of Chicago Law Review, Chicago, nº. 87, Iss. 4, Article 3, 2020, p. 1058.

United Nations Office on Drugs and Crime. Guidebook on anti-corruption in public procurement and the management of public finances: Good practices in ensuring compliance with article 9 of the United Nations Convention against Corruption. Viena: 2013, p. 1.

UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME. United Nations Convention against Corruption – UNCAC. Viena: 2004, p. 7, disponível em: https://www.unodc.org/unodc/corruption/tools_and_publications/UN-convention-against-corruption.html.

UNIVERSIDAD DE CHILE. Transparencia, Rendición de Cuentas y Lucha Contra la Corrupción en América. Informe de la reunión regional que tuvo lugar en Santiago de Chile entre el 3 y el 5 de diciembre de 2004. Disponível em: https://libros.uchile.cl/files/presses/1/monographs/393/submission/proof/files/assets/basic-html/index.html#5. Acesso em: 28/08/2022.

VALLS, Alejandro Pastrana. Estudio sobre la corrupción en América Latina. Revista Mexicana de Opinión Pública, México, n.27, jul./dic. 2019, p. 16. Disponível em: http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2448-49112019000200013. Acesso em: 20/07/2020.

ZAMBRANO, Diego A. Maneuvering Around the Court: Stanford’s Civil Procedure Expert Diego Zambrano on the Texas Abortion Law. SLS BLOGS/LEGAL AGGREGATE, Stanford, 2021. Disponível em: https://law.stanford.edu/2021/09/08/maneuvering-around-the-court-stanfords-civil-procedure-expert-diego-zambrano-on-the-texas-abortion-law/. Acesso em: 12/05/2022.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9822/2022.v8i2.9099

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.