Normas Processuais e Normas Substantivas: a Primazia das Normas de Jus Cogens e o Entendimento da Corte Internacional de Justiça

Elisa Resende Bueno Da Fonseca

Resumo


A proposta desse artigo é analisar a relação entre a norma processual de imunidade de Estado e a norma substantiva de jus cogens que proíbe a tortura e o trabalho escravo no caso Alemanha v. Itália julgado pela Corte Internacional de Justiça no ano de 2012. Em que pese a reconhecida superioridade das normas imperativas, no caso em espeque, sua análise foi impedida pela aplicação da norma processual de imunidade. A supressão da norma que expressa os valores superiores da comunidade internacional implicou em impunidade e injustiça manifesta. Por meio da análise pormenorizada das características e efeitos das normas substantivas de jus cogens, bem como, a sua distinção das normas de caráter processual, e considerando como marco a humanização do direito internacional e a busca pela efetividade dos direitos humanos, esse trabalho constatou que, de acordo com o Direito Internacional contemporâneo, não é possível que uma norma processual impeça a aplicação de uma norma substantiva de jus cogens, exatamente pelo valor supremo que essa última protege: a pessoa humana.


Palavras-chave


Norma processual; Norma substantiva; Jus cogens; Hierarquia; Justiça material

Texto completo:

PDF

Referências


A MENINA que roubava livros. Direção: Brian Percival. Interpretes: Geoffrey Rush; Emily

Watson, Sophie Nélisse; e outros. DVD. EUA / Alemanha, 2014.

A VIDA é bela. Direção: Roberto Benigni. Produção: Gianluigi Braschi; Elda Ferri. Interpretes: Roberto Benigni; Nicoletta Braschi; e outros. DVD. Itália, 1997.

BIANCHI, Andrea. Human Rights and the Magic of Jus Cogens. In: The European Journal of International Law. vol.19. n.3. 2008.

BORNKAMM, Paul Christoph. State Immunity Against Claims Arising from War Crimes: The Judgment of the International Court of Justice in Jurisdictional Immunities of the State. Disponível em: . Acesso em: 26 de novembro de 2013.

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil. 4.ed. São

Paulo: Editora Saraiva, 2010.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A Humanização do Direito Internacional.

Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

A visão Humanista do Direito Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.

El ejercicio de la función judicial internacional: memorias de la Corte

Interamericana de Derechos Humanos. 2.ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013.

International Law for Hamankind: Towards a New Jus Gentium – General Course on Public International Law – Part I, in Hague Academy of International Law. Offprint from the Collected Courses. vol. 316, Martinus Nijhoff Publishers, 2005.

Jus Cogens: The determination and the gradual expansion of its material contente in contemporary international case-law. Disponível em: < http://www.oas.org/dil/esp/3%20-%20cancado.LR.CV.3-30.pdf>. Acessado em: 04 de março de 2014.

Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. vol.I. 2.ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2003.

CAPPELLETO, Francesca. Memory and World War II: na ethnographic approach. New York: BERG OXFORD, 2005.

CASSESSE, Antônio. When May Senior State Officials Be Tried for Internationa Crimes? Some Comments on the Congo v. Belgium case. EJIL 2002, vol.13, no.4. p.853- 875.

CIDH. Opinión Consultiva OC-18/03. Solicitada por los Estados Unidos Mexicanos. Condición Jurídica y Derechos de los Migrantes Indocumentados. Disponível em:

. Acessado em: 03 de abril de 2014.

CIJ. Application for permission to intervene by the government of the Hellenic Republic. 13 de janeiro de 2011. Disponível em: < http://www.icj-cij.org/docket/files/143/16304.pdf>. Acessado em: 22 de novembro de 2013.

CIJ. Application Instituting Proceedings Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy) de 23 december 2008. Disponível em: . Acessado em: 20 de janeiro de 2014.

CIJ. Counter-Memorial of Itália 22 de dezembro de 2009. Disponível em: . Acessado em 26 de novembro de 2013.

CIJ. Dissenting Opinion of judge Cançado Trindade Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy: Greece intervening). 2012. Paragrafo 294. Disponível em: < http://www.icj-cij.org/docket/files/143/16891.pdf>. Acessado em: 20 de junho de 2014.

CIJ. Judgment of 5 February 1970 Barcelona Traction, Light and Power Company, Limited (Belgium v. Spain). ICJ Reports 1970, p. 32, parágrafos 33 e 34. Disponível em: < http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&k=4e&case=41&code=bt&p3=6>. Acessado em: 02 de junho de 2014.

CIJ. Judgment Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy; Greece intervening). ICJ Reports, 3 February 2012 . Disponível em: . Acessado em: 26 de novembro de 2013.

CIJ. Memorial of the Federal Republic of Germany Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy: Greece intervening). 12 de junho de 2009. Parágrafo 87. Disponível em: < http://www.icj-cij.org/docket/files/143/16644.pdf>. Acessado em: 20 de janeiro de 2014.

CIJ. Public sitting held on Monday 12 September 2011, at 10 a.m., at the Peace Palace, President Owada presiding, in the case concerning Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy: Greece intervening). CR 2011/17. p. 49-50, parágrafo 3. Disponível em: . Acessado em: 20 de janeiro de 2014.

CIJ. Public sitting held on Tuesday 13 September 2011, at 10 a.m., at the Peace Palace, President Owada presiding, in the case concerning Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy: Greece intervening). CR 2011/18. p. 47-48, parágrafo 25. Disponível em: . Acessado em: 20 de janeiro de 2014.

CIJ. Public sitting held on Wednesday 14 September 2011, at 10 a.m., at the Peace Palace, President Owada presiding, in the case concerning Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy: Greece intervening). CR 2011/19. p. 36, parágrafo 98. Disponível em: < http://www.icj- cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&k=60&case=143&code=ai&p3=2 >. Acessado em: 20 de janeiro de 2014.

CIJ. Reports of Judgments Case Concerning The Arrent Warrant of 11 April 2000 (Democratic Republic Of The Congo V. Belgium). Judgment of 14 february 2002.

Parágrafo 60. Disponível em: < http://www.icj-cij.org/docket/files/121/8126.pdf>. Acessado em 16 de junho de 2014.

CIJ. Summary of the Judgment of 3 February 2012. Jurisdictional Immunities of the State (Germany v. Italy; Greece intervening). 2012. p. 4. Disponível em: < http://www.icj- cij.org/docket/files/143/16899.pdf>. Acessado em: 20 de dezembro de 2013.

D‟AMATO, Anthony. It‟s a Bird, it‟s a plane, it‟s jus cogens. In: Connecticut Journal of International Law, v.6, n.1, p. 1-6, 1990.

DINAMARCO, Cândido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. 13.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.

FINKELSTEIN, Cláudio. Hierarquia das Normas no Direito Internacional: jus cogens e metaconstitucionalismo. São Paulo: Saraiva, 2013.

MAZOWER, Mark. O Império de Hitler: a Europa sob o domínio Nazista. Tradução

Cláudio Carina; Lúcia Boldrini. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

MC GREGOR , Lorna. Torture and State Immunity: Deflecting Impunity, Distorting Sovereignty. In: EJIL 18, páginas 903-911, 2007.

NASSER, Salem Hikmat. Jus Cogens: ainda esse desconhecido. In: Revista Direito GV 2. v.1. n.2. 2005.

O JULGAMENTO de Nuremberg. Direção: Yves Simoneau. Interpretes: Alec Baldwin; Brian

Cox; e outros. Estúdio: Warner Home Vídeo. Duração: 180 minutos. DVD. Canadá / EUA, 2000.

ONU. Yearbook of the International Law Commission (1976). Vol. II. parte II. 1976. Disponível em: < http://legal.un.org/ilc/publications/yearbooks/1976.htm>. Acessado em: 20 de maio de 2014.

ORAKHELASHVILI, Alexander. State Immunity and Hierarchy of norms: why the House of Lords got it wrong. In: The Europen Journal of International Law. Vol. 18. no.5. EJIL

ORAKHELASHVILI, Alexander. State Immunity and International Public Order Revisited. GYIL 2006, v.49. p. 327-365.

PAULUS, Andreas L. Jus Cogens in a Time of Hegemony and Fragmentation: an attempt at a re-appraisal. In: Nordic Journal of International Law. 74. 2005.

PAVONI, Riccardo. Human Rights and the Immunities of Foreign States and International Organizations. In: DE WET, Erika; VIDMAR, Jure (edited). Hierarchy in International Law: The Place of Human Rights. Oxford, 2012.

PIOVESAN, Flávia. A Proteção dos Direitos Humanos no Sistema Constitucional Brasileiro. In: Revista de Direito Constitucional e Internacional. vol.45. out/2003.

A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Brasileiro. In: Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos. vol.6. Ago/2011.

. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. São Paulo: Saraiva, 2008.

SALIBA, Aziz Tuffi. A Imunidade absoluta de jurisdição de Estados: “sólida regra costumeira” ou mito? In: ALMEIDA, Gregório Assagra de; GOMES JUNIOR, Luiz Manoel; SALIBA, Aziz Tuffi (orgs). Direitos Fundamentais e sua proteção nos planos interno e internacional. Belo Horizonte: Arraes em parceria com a Universidade de Itaúna, v. I e II. 2010.

Conselho de Segurança da ONU: sanções e limites jurídicos. Curitiba: Juruá, 2009.

Direito dos Tratados: comentários à Convenção de Viena sobre o direito dos tratados (1969). Aziz Tuffi Saliba, autor e organizador; Ana Cristina Zadra Valadares e André de Carvalho Ramos. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2011.

SILVEIRA, Rubens Curado. A Imunidade de Jurisdição dos Organismos Internacionais e os Direitos Humanos. São Paulo: Editora LTR, 2007.

TALMON, Stefan. Jus Cogens after Germany v. Italy: Substantive and Procedural Rules Distinguished. In: Bonn Research Papers on Public International Law. Paper n. 4/2012, 16 de junho de 2012.

TUNKIN, Grigory I. Jus Cogens in Contemporary International Law. 3U. Tol. L. Rev. 107, 1971. Disponível em: . Acessado em: 25 de fevereiro de 2014.

VITÓRIA, Franciso de. Os Índios e o Direito da Guerra. Ciro Mioranza (trad.). Rio Grande do Sul: Ijuí, 2006.

ZWEIG, Stefan. O Mundo que eu vi (minhas memórias). Tradução Odilon Gallotti. Rio de

Janeiro: Guanabara, 1942.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9644/2015.v1i1.710

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.