Igualdade substancial, políticas públicas e democracia: para além do direito à igualdade formal

Leonardo Mattietto

Resumo


O artigo revisita os conceitos de igualdade formal e substancial, preconizando sua revisão crítica em prol de uma concepção solidária que priorize as políticas públicas como instrumentos para a estruturação de uma sociedade democrática que promova os direitos humanos e o respeito às minorias. Embora a igualdade formal tenha desempenhado um papel histórico central na afirmação do Estado de Direito e dos direitos fundamentais, a mera declaração da igualdade de todas as pessoas perante a lei (ou mesmo a sua vertente de igualdade de oportunidades) não é capaz de fornecer, por si só, a realização do ideal democrático de convivência pacífica nas diversas esferas de pertencimento em que os sujeitos participam da vida social. Para as políticas públicas, importa enfatizar a acepção substancial da igualdade, evitando-se os embaraços, para a sua formulação e análise, que decorreriam de um anacrônico apego ao conceito formal. Por meio da implementação de políticas públicas que a estimulem, a igualdade substantiva deve ser um objetivo permanente de uma organização política essencialmente democrática.

 


Palavras-chave


igualdade formal; igualdade substancial; democracia; políticas públicas; direitos humanos

Texto completo:

PDF

Referências


ADEODATO, João Maurício Leitão; CASTRO, João Vitor Cruz de. Questioning the Fundamental Right to the Material Equality: Do the Exceptional Cases Justify the Ultraliberal Meritocracy? Beijing Law Review, n. 14, 473-495, 2023. Disponível em: < https://doi.org/10.4236/blr.2023.141024>. Acesso em 8 abr. 2023.

BOZIO, Antoine; GRENET, Julien. Économie des politiques publiques. Paris: La Découverte, 2017.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2000.

COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE (CEPAL). Panorama Social de América Latina. Santiago: Naciones Unidas, 2021. Disponível em . Acesso em: 12 out. 2022.

DUVOUX, Nicolas. Le nouvel âge de la solidarité: pauvreté, precarité et politiques publiques. Paris: Éditions du Seuil, La République des Idées, 2012.

DWORKIN, Ronald. Taking rights seriously. Cambridge: Harvard University Press, 1977.

FREDMAN, Sandra. Substantive equality revisited. International Journal of Constitutional Law, v. 14, n. 3, p. 712-738, jul. 2016.

GUNN, Andrew; MINTROM, Michael. Public Policy and Universities: The Interplay of Knowledge and Power. Cambridge: Cambridge University Press, 2022.

HOGEMANN, Edna Raquel. Human Rights beyond Dichotomy between Cultural Universalism and Relativism. The Age of Human Rights Journal, n. 14, p. 19-36, 2020. Disponível em: . Acesso em 15 out. 2022.

INGRAM, Helen; SCHNEIDER, Anne L. Policy analysis for democracy. In: MORAN, Michael; REIN, Martin; GOODIN, Robert E. (eds.). The Oxford Handbook of Public Policy. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 169-189.

MATTIETTO, Leonardo. Disasters, pandemic and repetition: a dialogue with Maurice Blanchot’s literature. Academia Letters, p. 1-4, Jul. 2021. Disponível em: . Acesso em 24 jul.2021.

MATTIETTO, Leonardo. Dos direitos da personalidade à cláusula geral de proteção da pessoa. Revista Fórum de Direito Civil, Belo Horizonte, n. 16, p. 11-25, set./dez. 2017.

MATTIETTO, Leonardo. Pós-graduação em Direito: locus para a compreensão crítica da judicialização de políticas públicas. In: MENDONÇA, Paulo Roberto Soares (org.). Judicialização de políticas públicas: a visão dos juristas. Rio de Janeiro: Multifoco, 2020, p. 9-12.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.

MOUNIER, Emmanuel. Le personnalisme. 16. ed. Paris: PUF, 1995.

NEVES, Marcelo. A Força Simbólica dos Direitos Humanos. Revista Eletrônica de

Direito do Estado, Salvador, n. 4, p. 1-34, out./dez. 2005. Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2022.

POPPER, Karl. The open society and its enemies. Princeton: Princeton University Press, 2013.

RAWLS, John. A Theory of Justice. Cambridge: Harvard University Press, 1971.

REIN, Martin. Reframing problematic policies. In: MORAN, Michael; REIN, Martin; GOODIN, Robert E. (eds.). The Oxford Handbook of Public Policy. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 389-405.

RODOTÀ, Stefano. Solidarietà: un’utopia neccessaria. Bari: Laterza, 2014.

ROULAND, Norbert; PIERRÉ-CAPS, Stéphane; POUMARÈDE, Jacques. Direito das minorias e dos povos autóctones. Tradução de Ane Lize Spaltemberg. Brasília: UnB, 2004.

SALDANHA, Nelson. Da teologia à metodologia: secularização e crise no pensamento jurídico. Belo Horizonte: Del Rey, 1993.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A construção multicultural da igualdade e da diferença. Oficina do Centro de Estudos Sociais, Coimbra, p. 1-61, jan. 1999.

SCHAAR, John H. Equality of opportunity, and beyond. In: PENNOCK, J. Roland; CHAPMAN, John. Equality. New York: Atherton, 1967, p. 228-249.

SORJ, Bernardo; GUEDES, Luis Eduardo. Exclusão digital: problemas conceituais, evidências empíricas e políticas públicas. Novos estudos CEBRAP, n. 72, p. 101-117, jul. 2005. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2022.

SOUZA, Daniel Coelho de. Interpretação e democracia. 2. ed. São Paulo: RT, 1979.

SUNDFELD, Carlos Ari; ROSILHO, André. Direito e Políticas Públicas: Dois Mundos? In: SUNDFELD, Carlos Ari; ROSILHO, André (orgs.). Direito da Regulação e Políticas Públicas. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 45-79.

TOURAINE, Alain. O que é a Democracia? Trad. de Guilherme João de Freitas Teixeira. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

UNITED NATIONS. The Sustainable Development Goals Report 2021. New York: United Nations, 2021. Disponível em: https://unstats.un.org/sdgs/report/2021/The-Sustainable-Development-Goals-Report-2021.pdf. Acesso em: 13 out. 2022.

VAN DYKE, Vernon. Equality and Public Policy. Chicago: Nelson-Hall, 1990.

WEIL, Simone. Draft for a statement of human obligations. Translated by Richard Rees. In: MILES, Siân (ed.). Simone Weil - An Anthology. London: Penguin, 2005, p. 221-230.

WOLFF, Jonathan. Ethics and public policy: a philosophical inquiry. 2. ed. London: Routledge, 2020.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9660/2023.v9i1.9508

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.