Constitucionalismo Político, Processo Democrático e o Papel das Cortes

Nikolai Olchanowski

Resumo


A  proposta  de  um  constitucionalismo  político  por  Richard  Bellamy  se  ampara fundamentalmente na crítica ao constitucionalismo legal, isto é, na tradicional ideia em teoria constitucional de que a democracia deve ser balizada por princípios e condições inerentes à interação política. Bellamy, ao inserir conceitos como o rule of law, a previsão de direitos e o controle de constitucionalidade sob o crivo das circunstâncias da política, afirma que o constitucionalismo legal é, em verdade, hostil ao ideal democrático de autogoverno. Essa ideia pode ser lida sob as lentes da literatura produzida em ciência política, que também questiona a noção de rule of law como fundada num caráter distintivo das leis e das Cortes. O rule of law, nessa perspectiva, só é garantido mediante a adequada distribuição de incentivos aos indivíduos e, portanto, através da distribuição de poder político entre instituições. Bellamy, contudo, parece ignorar a hipótese de que leis e previsões constitucionais têm importante papel na solução de problemas de ação coletiva, papel este que, paradoxalmente, seria capaz de devolver importância ao tradicional constitucionalismo legal. A obra de Bellamy, no fundo, é relevante para mostrar que, sem fomento de participação política e adequada distribuição de poder de influência aos indivíduos, as previsões constitucionais e a atuação das Cortes podem ser inócuas ou mesmo prejudicar a construção de uma democracia.


Palavras-chave


Constitucionalismo político; Democracia; Richard bellamy; Rule of law

Texto completo:

PDF

Referências


BELLAMY, Richard. Political Constitutionalism. A Republican Defense of the Constitutionality of Democracy. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.

. On democracy. New Haven: Yale University Press, 1998.

DWORKIN, Ronald. Justice for hedgehogs. Cambridge: Harvard University Press, 2011.

. Law’s Empire. Cambridge: Harvard University Press, 1986.

ELY, John Hart. Democracy and Distrust: A Theory of Judicial Review. Cambridge: Harvard

University Press, 1980.

ELSTER, Jon. Ulisses liberto: estudos sobre racionalidade, pré-compromissos e restrições. São

Paulo: Editora UNESP, 2009.

Tradução minha. No original: “In particular, if the government as a whole is to be limited, there must be no

‘unchecked checker’, agencies that can check others without being subject to checks by them. If the courts can dictate to the other branches of the government, and these branches cannot control the courts, the power of the judiciary is unchecked. Moderation emerges in this conception only if every action of any branch requires cooperation of some other branch to be effective”.

. Juicios Salomónicos. Las limitaciones de la racionalidad como principio de decisión. Barcelona: Editorial Gedisa, 1999.

. Nuts and Bolts for the Social Sciences. Cambridge: Cambridge University

Press, 1989.

GARGARELLA, Roberto. La Sala De Maquinas De La Constitución. Dos Siglos de

Constitucionalismo en América Latina (1810 - 2010). Buenos Aires: Capital Intelectual, 2014.

. Las teorías de la justicia después de Rawls. Un breve manual de filosofía política. Barcelona: Paidós, 1999.

GUARNIERI, Carlo. Courts as an Instrument of Horizontal Accountability: The Case of Latin Europe. In: MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam (eds). Democracy and the rule of law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 223-241.

HOLMES, Stephen. Lineages of the Rule of Law. In: MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam (eds). Democracy and the rule of law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 19-61.

JARAMILLO, Leonardo García (Org.). Nuevas perspectivas sobre la relación/tensión entre la democracia y el constitucionalismo. Lima: Grijley, 2014.

KRAMER, Larry. The people themselves: popular constitutionalism and judicial review. New

York: Oxford University Press, 2004.

LIJPHART, Arend. Patterns of democracy: government forms and performances in thirty-six countries. 2 ed. New Haven: Yale University Press, 2012.

MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam. Introduction. In: MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam (eds). Democracy and the rule of law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 1-16.

POST, Robert; SIEGEL, Reva. Constitucionalismo democrático. Por una reconciliación entre Constitución y Pueblo. Buenos Aires: Siglo veintiuno, 2013.

PRZEWORSKI, Adam. Democracy and the Market. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.

PRZEWORSKI, Adam; ALVAREZ, Michael; CHEIBUB, José Antonio; LIMONGI, Fernando. What Makes Democracies Endure? Journal of Democracy. Vol. 7. No. 1 (1996) p. 39-55.

PRZEWORSKI, Adam; CHEIBUB, José Antonio; LIMONGI, Fernando. Democracia e cultura: uma visão não culturalista. Lua Nova. No. 58 (2003).

RAWLS, John. A theory of justice. Revised edition. Cambridge: Harvard University Press, 1999.

RAZ, Joseph. The authority of Law. 2 ed. Oxford: Oxford University Press, 2009.

ROBL FILHO, Ilton Norberto; TOMIO, Fabricio Ricardo de Limas. Empirical legal Research: teoria e metodologia para a abordagem do processo decisório de controle de constitucionalidade no STF. In: SIQUEIRA, Gustavo Silveira; VESTENA, Carolina Alves (coord). Direito e experiências jurídicas: debates práticos. Vl. 2. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2013. p. 96-117.

SHAPIRO, Scott J. Legality. Cambridge: Harvard University Press, 2011.

TROPER, Michel. Obedience and Obligation in the Rechtstaat. In: MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam (eds). Democracy and the rule of law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 94-108.

TSEBELIS, George. Veto Players. How political institutions work. Princeton: Princeton

University Press, 2002.

TUSHNET, Mark. I Dissent: Great Opposing Opinions in Landmark Supreme Court Cases. Boston: Beacon, 2008.

VANDERSCHRAAF, Peter. The circumstances of justice. Politics, Philosophy & Economics. Vol. 5. No. 3 (October 2006). p. 321-351.

WEINGAST, Barry R. A postscript to “Political Foundations of Democracy and the Rule of Law. In: MARAVALL, José María; PRZEWORSKI, Adam (eds). Democracy and the rule of law. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 109-113.

WALDRON, Jeremy. Law and Disagreement. Oxford: Oxford University Press, 1999.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9660/2015.v1i1.753

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.