ASSISTÊNCIA SOCIAL, BIOPOLÍTICA E NEOLIBERALISMO

Romário Edson da Silva Rebelo, Jean François Yves Deluchey

Resumo


A entrega de cestas básicas durante os primeiros meses da pandemia foi um verdadeiro espetáculo no Brasil, e na periferia de Belém do Pará, não foi diferente. Esse espetáculo remeteu na nossa avaliação ao papel biopolítico que a assistência social exerce. Devemos interrogar o motivo de o Estado, na atual fase do capital, financiar uma política pública voltada para famílias na linha e abaixo da linha da pobreza, famílias essas que, muitas vezes, são o alvo do extermínio legitimado pela mídia e por vozes tirando sua autoridade do Estado. Para tanto, propusemos pensá-la a partir da consolidação da assistência social no Brasil, uma história que se confunde com a caridade, o damismo e a filantropia, e assim, problematizar a gestão da miséria dentro de uma agenda neoliberal. Com isso, chegamos à conclusão de que a assistência social opera uma invasão pacífica de espaços heterotópicos com o objetivo de capturar as formas de vidas estranhas ao mercado e submetê-la a uma lógica hierarquizante.

Palavras-chave


assistência social; biopolítica; neoliberalismo; pandemia; pobreza.

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DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9865/2023.v9i1.9538

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