Os Corpos Refeitos: A Intersexualidade, a Prática Médica e o Direito À Saúde

Ana Carolina Gondim de Albuquerque Oliveira

Resumo


Historicamente o corpo está condicionado a regras que cunho heteronormativo e binário. A existência intersexual transgride as normas binárias e por isso, as pessoas intersexuais são relegadas a invisibilidade e reduzidas a condição de anormais que necessitam ter seus corpos refeitos através de intervenções médicas denominadas cirurgias de normalização do sexo. O presente artigo tem por objetivo discutir como a prática médica atua sobre os corpos intersexuais a partir das cirurgias de normalização do sexo, e, se estas violam o direito à saúde das pessoas com anomalia no desenvolvimento sexual, partindo da premissa que o direito à saúde é direito humano protegido pelo direito interno e internacional. Metodologicamente, o manuscrito é uma revisão bibliográfica e para construção da pesquisa e a compreensão das categorias como corpo, gênero, sexo, invisibilidade social e intersexualidade foi utilizado o método pós-estruturalista de matriz foucaultinana. Como resultado observou-se que as cirurgias de normalização do sexo se constituem com um dos instrumentos mais eficazes para a invisibilidade social dos intersexuais, além de se constituir, também, como meio de violação do direito à saúde dessas pessoas.

Palavras-chave


intersexualidade, Invisibilidade, Cirurgia, Saúde

Texto completo:

PDF

Referências


BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BEREK, Jonathan S. Tratado de ginecologia. Trad. Claudia Lúcia C. de Araújo. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008

______. Cuerpos que importam: sobre los limites materiales y discursivos del sexo. Buenos Aires: Anagrama, 2002.

CAMPOS, Gastão Wagner de S. Clínica e saúde coletiva compartilhadas: teoria paidéia e reformulação ampliada do trabalho em saúde. In: CAMPOS et al (Org). Tratado de saúde coletiva. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Fiocruz, 2007, p. 19-40.

CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

CANGUÇU-CAMPINO, Ana Karina; BASTOS, Ana Cecília de S. B.; LIMA, Isabel Maria Sampaio O. O discurso biomédico e o da construção social na pesquisa sobre intersexualidade. Physis - revista de saúde coletiva, Rio de Janeiro, 2009, n. 19, a.4, p. 1145-1164. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 22 de jul. 2015.

CLINICAL GUIDELINES. Consortium on the management of disorders of sex development. California: California Endowment and Arcus Foundation, 2008.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução nº. 1.664/03, de 11 de abril de 2003. Dispõe sobre a definição das normas técnicas necessárias para o tratamento de pacientes portadores de anomalias de diferenciação sexual. Disponível em: < www.portal.cfm.org.br >.

Acesso em: 03 de jul. 2015.

COURTINE, Jean-Jacques. O corpo anormal – história e antropologia culturais da deformidade. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (Orgs.). História do corpo: as mutações do olhar – o século XX.3.ed. Petropólis: Vozes, 2009, p. 7-12; 253-340.

FAUSTO-STERLING, Anne. Sexing the body: gender politics and the construction of sexuality. New York: Basic Books, 2000.

FAURE, O. O olhar dos médicos. In: CORDIN, A; VIGARELLO, G. (Org.). História do Corpo. Vol. II: Da Revolução à Grande Guerra. Petropólis: Vozes, 2008.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Trad. Org. Roberto Machado. 27. reimp. Rio de Janeiro: Graal, 2009a.

______. Microfísica do Poder. Trad. Org. Roberto Machado. 27. reimp. Rio de Janeiro: Graal, 2009b.

______. Os anormais. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FREITAS, Fernando et al. Rotinas em ginecologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.

GUERRA-JÚNIOR, G; MACIEL-GUERRA, A.T.O. O pediatra frente a uma criança com ambigüidade sexual. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, Nov/2007a, v. 83, n. 5, p. 184-191.

______. As novas definições e classificações dos estados intersexuais: o que o Consenso de Chicago contribui par ao estado da arte? Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolism. São Paulo, Fev/2007b, v. 15, n. 6, p. 1013-1017. Disponível em:

< http://www.scielo.br/scielo >. Acesso em: 20 de jun. 2015.

LAVIGNE, Luciana. La regulación biomédica de La intersexualidade. Um abordaje de los representaciones socioculturales dominantes. In:

CABRAL, Mauro. Interdicciones: escrituras de la intersexualidad em castellano. Córdoba: Anarrés, 2009, p. 51-71.

LE BRETON, David. Anthropologie du corps et modernité. 5 ed. Paris: PUF, 2001.

______. A Sociologia do Corpo. Trad. Sonia M.S. Fuhrmann. 2 ed. Petropólis: Vozes, 2007.

LEE, A. Peter; CHRISTOPHER, P. Houk; AHMED, S. Faisal; HUGHES, I.A. Consensus statement on management os intersex disorders. Pediatrics – Official Journal of the American Academy of Pediatrics, Agosto. 2006, v.118, n. 2, p. 488-500. Disponível em:

< http://www.pediatrics.aappublications.org >. Acesso em: 01 ago. 2015.

MACHADO, Paula Sandrine. O sexo dos anjos: representações e práticas em torno do gerenciamento sociomédico e cotidiano da intersexualidade. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. 2008a.

______. Intersexualidade e o Consenso de Chicago – as vicissitudes da nomenclatura e suas implicações regulatórias. Revista brasileira de ciências sociais. Out/2008b, v. 23, n. 68, p.109-124. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo >. Acesso em: 20 de jul. 2015.

______. Confesiones corporales: algunas narrativas sociomédicas sobre los cuerpos intersex. In: CABRAL, Mauro. Interdicciones: escrituras de la intersexualidad em castellano. Córdoba: Anarrés, 2009, p. 83-101.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Contribuições da antropologia para pensar e fazer saúde. In: CAMPOS et al (Org). Tratado de saúde coletiva. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Fiocruz, 2007, p. 189-219.

MOULIN, Anne-Marie. O corpo diante da medicina. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean- Jacques; VIGARELLO, Georges (Orgs.). História do corpo: as mutações do olhar – o século

XX.3.ed. Petropólis: Vozes, 2009, p. 15-82.

OLIVEIRA, Ana Carolina Gondim de Albuquerque. Corpos estranhos? Reflexões sobre a interface entre a intersexualidade e os direitos humanos. João Pessoa: Dissertação de Mestrado

do Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas – UFPB, 2012.

PINO, Nádia Perez. A teoria queer e os intersex: experiências invisíveis de corpos des-feitos. Cadernos Pagu. Campinas, n.28, 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo >. Acesso em: 20 de jul. 2015.

SCHORGE, Jonh O. et al. Ginecologia de Williams. Trad. Celeste Inthy. Rev. Téc. Suzana Arenhart Pessini. Porto Alegre: Artmed, 2011

SPÍNOLA-CASTRO, Ângela Maria. A importância dos aspectos éticos e psicológicos na abordagem do intersexo. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo. São Paulo, Fev. 2005, v. 49, n.1, p. 46-59. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo >. Acesso em: 20

de jul. 2015.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9695/2015.v1i1.19

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.